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sábado, 18 de maio de 2019

A QUEDA DE UM ANJO (Camilo Castelo Branco)

"Abriram-se as Câmaras. A oposição espantou-se de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por mão com os ministros. O abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e correligionário, de que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz. O desembargor do eclesiástico redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda, e disse-lhe:
- Meu amigo, abra os olhos, que não há martirológio para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem: voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.
- Segue que está liberal? – perguntou o pávido abade.
- Estou português do século XIX.
- Apostatou! Disse com pesar mui estranhado o padre. – Apostatou!"





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