"Abriram-se as Câmaras. A oposição espantou-se
de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por mão com os ministros. O
abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e correligionário, de
que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da
civilização alumiava com mais clara luz. O desembargor do eclesiástico
redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda, e
disse-lhe:
- Meu amigo, abra os olhos, que não há
martirológio para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem:
voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram
nas moléculas e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.
- Segue que está liberal? – perguntou o pávido
abade.
- Estou português do século XIX.
- Apostatou! Disse com pesar mui estranhado
o padre. – Apostatou!"
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