"Fernão Mendes Pinto na sua obra
"Peregrinação" refere que em 1543 uma tempestade empurrou o junco
onde ele viajava com outros portugueses até à ilha de Tanegashima no Japão,
país esse onde nenhum europeu tinha estado anteriormente. Foi durante esse
encontro que os japoneses contactaram com as espingardas que os portugueses
transportavam e das quais desconheciam a existência, passando a utilizá-las nas
disputas entre si e conseguindo assim unificar o país. O senhor da ilha, Tokitaka,
mandou Kimbei, o seu ferreiro de confiança, procurá-los com o objetivo de
descobrir o motivo porque não disparavam as espingardas fabricadas a partir
daquelas que os portugueses lhe tinham vendido. A descrição contínua, dizendo
que Kimbei tinha uma filha muito bonita chamada Wakasa, que levou consigo
quando se encontrou com os portugueses. Vendo o interesse que o capitão do
barco português, prometeu-lhe que lhe daria a rapariga em troca do segredo que
fizesse as espingardas funcionarem. Quando Kimbei regressou do encontro, Wakasa
ficara com o capitão e a acompanhá-lo-ia um armeiro que lhe forneceu as
explicações necessárias que lhe possibilitaram fabricar ao longo de um ano uma
dúzia de réplicas perfeitas de espingardas portuguesas. O relato diz também que
Wakasa partiu no navio com o capitão e de ambos nasceu o primeiro luso-japonês.
A narração conta que, com o tempo, a rapariga começou a lastimar-se das
saudades que tinha da ilha e da sua família e que o capitão, perante os seus
lamentos, concordou em deixá-la em Tanegashima numa viagem que o barco fez ao
Japão. Porém não conseguindo separar-se do filho, levou-o consigo prometendo
que voltaria. Contudo, os meses e os anos passaram e o capitão nunca mais
voltou. Na TeppoKi, a narrativa termina desta forma, todavia a lenda dá-lhe
continuidade, acrescentando que Wakasa ia todos os dias para o cabo Kadokura,
na esperança de vislumbrar o barco que traria o capitão e o seu filho de
regresso. Um dia, não se sabe se sonho ou realidade, Wakasa viu uma sombra no
horizonte e imaginando que podia ser o barco, correu em direção à falésia para
poder ver melhor o mar. Porém, com a precipitação da corrida, desequilibrou-se
e caiu, encontrando a morte no fundo do penhasco. Sepultaram-na junto à campa
do pai no cemitério dos ferreiros e nesse local continuam a ser deixados lírios
brancos (açucenas) designados em Tanegashima por "lírios da
espingarda", "teppolili"."
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