"A
titi, em casa, estendia-me a mão a beijar: e toda a manhã eu ficava folheando
volumes do Panorama Universal, na saleta d'ella, onde havia um sofá de
riscadinho, um armario rico de pau preto, e lithographias coloridas, com ternas
passagens da vida purissima do seu favorito santo, o patriarcha S. José. A
titi, de lenço rôxo carregado para a testa, sentada
á janella por dentro dos vidros, com os pés embrulhados n'uma manta, examinava
solicitamente um grande caderno de contas. Começou d'ahi, farta e regalada, a
minha existencia de sobrinho da snr.ª D. Patrocinio das
Neves. Ás oito horas, pontualmente, vestido de preto, ia com a titi á igreja de
Sant'Anna, ouvir a missa do padre Pinheiro. Depois d'almoço, tendo pedido
licença á titi, e rezadas no oratorio tres Gloria Patri contra as tentações,
sahia a cavallo, de calça clara. Quasi sempre a titi me dava alguma incumbencia
beata: passar em S. Domingos, e dizer
a oração pelos tres santos martyres do Japão entrar na Conceição Velha, e fazer
o acto de desaggravo pelo Sagrado Coração de Jesus…
Acordando do seu langor,
trémula e pallida, mas com a gravidade d'um pontifice, a titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos,
collocou-o sobre o altar; devotamente
desatou o nó do nastro vermelho; depois, com o cuidado de quem teme
magoar um corpo divino, foi desfazendo uma a uma as dobras do papel pardo… Uma
brancura de linho appareceu… A titi segurou-a nas pontas dos dedos, repuxou-a
bruscamente—e sobre a ara, por entre os santos, em cima das camelias, aos pés
da Cruz—espalhou-se, com laços e rendas, a camisa de dormir da Mary!”