“Que
poder é esse teu, Vejo o que está dentro dos corpos, e às vezes o que está no
interior da terra, vejo o que está por baixo da pele, e às vezes mesmo por
baixo das roupas, mas só vejo quando estou em jejum, perco o dom quando muda o
quarto da lua, mas volta logo a seguir, quem me dera que o não tivesse, Porquê,
Porque o que a pele esconde nunca é bom de ver-se, Mesmo a alma, já viste a
alma, Nunca a vi, Talvez a alma afinal não esteja dentro do corpo, Não sei,
nunca a vi... Blimunda levantou a cabeça, olhou o padre, viu o que sempre via,
mais iguais as pessoas por dentro do que por fora, só outras quando doentes,
tornou a olhar, disse, Não vejo nada.O padre sorriu, Talvez eu já não tenha
vontade, Vejo, vejo uma nuvem fechada sobre a boca do estômago. O padre persignou-se,
Graças meu Deus agora voarei. Tirou do alforge um frasco de vidro que tinha
presa ao fundo, dentro, uma pastilha de âmbar amarelo. Este âmbar, também
chamado electro, atrai o éter, andarás sempre com ele por onde andarem pessoas,
em procissões, em autos de fé, aqui nas obras do convento, e quando vires que a
nuvem vai sair de dentro delas, está sempre a suceder, aproximas o frasco
aberto, e a vontade entrará nele.”