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sábado, 31 de agosto de 2024

VIRIATO

 “Povo com origem celta que habitava as montanhas entre os rios Douro e Tejo. Não deixaram escritos e o que se sabe hoje deles deriva dos relatos de autores gregos e romanos e da arqueologia.

 Os textos dos autores clássicos concordam na obstinada ferocidade com que os lusitanos enfrentaram a conquista romana, à qual resistiram quase 200 anos, numa guerra de emboscadas (razzia) e ataques de surpresa noturnos…

 …vivem à maneira lacónica (espartana), são frugais, deixam o cabelo cair pelas costas abaixo, à maneira das mulheres, mas combatem cingindo as frontes com uma fita…

 …são dados a sacrifícios e examinam as entranhas dos prisioneiros, aos quais cortam a mão direita como oferenda aos deuses…

 …encontram-se unidos por laços de sangue e não de território. Vivem em aldeias com casas redondas de pedra cobertas de palha e situadas no alto de colinas e ungem-se tomando banhos de vapor produzidos por pedras aquecidas, banhando-se em água fria…

 …fazem uma única refeição diária, bebem água, cerveja de cevada e leite de cabra, fabricam pão de glandes de carvalho e bolotas e só comem carne de bode…

 …os condenados são despenhados em precipícios e os enfermos são expostos nos caminhos para que quem tem experiência da doença dê conselhos…

 …é uma sociedade cuja liderança não é hereditária mas de um chefe guerreiro escolhido entre os pares. Quando as aldeias são ameaçadas, as mulheres lutam ao lado dos homens, e tiram a própria vida quando são capturadas…

 …marcham observando tempo e medida; e cantam hinos (paeans) quando estão prontos para investir sobre o inimigo…

 …casam à maneira dos gregos, e homens e mulheres bailam em danças de roda, de mãos dadas…”






quarta-feira, 28 de agosto de 2024

ZÉ DO TELHADO

“Nasceu em Penafiel em 22Jun1818.

Aos 19 anos assenta praça no quartel de cavalaria 2 nos “Lanceiros da Rainha”.

Em 1837 os “Lanceiros” fazem parte da “Revolta dos Marechais”, cujo insucesso o obriga a refugiar-se em Espanha.

Regressa a Portugal em 1845 e participa na “Revolta da Maria da Fonte”. Como reconhecimento da bravura e dedicação à causa, é agraciado com a condecoração Torre e Espada.

A acumulação de dívidas leva-o a ser expulso do exército e assim, no decurso da guerra civil entre absolutistas e liberais, torna-se chefe de uma quadrilha de salteadores, onde se incluiam membros do clero e da nobreza, como o sacerdote Torcato Guimarães e o morgado de Magantinha.

O alvo dos roubos eram as casas senhoriais do Norte de Portugal onde, segundo a tradição popular, tratava com respeito os donos das casas assaltadas e distribuia parte do saque pelos mais necessitados, o que lhe valeu a alcunha do “Robin dos Bosques português”.

Em 1859 foi preso e partilhou a cela com Camilo Castelo Branco, cuja amizade levou o romancista a fazer-lhe referência nas suas “Memorias do Cárcere”.

Foi julgado e condenado ao degredo em Angola. Na aldeia de Xissa, onde viveu o resto da sua vida, os locais continuam hoje a cuidar do pequeno mausoléu que foi erguido em honra do Kimuezo (homem das barbas grandes), e onde jaz o outrora respeitado e generoso comerciante de borracha, marfim e cera.”




domingo, 7 de julho de 2024

AUTO DA BARCA DO INFERNO (Gil Vicente)

“À barca, à barca, senhores!

Oh! que maré tão de prata!

Um ventozinho que mata

E valentes remadores!”

“Por força assim é!

Como fizeste, cá entrarás!

Irás servir Satanás,

Porque sempre ele te ajudou”





quinta-feira, 4 de julho de 2024

LUISA TODI

“Nasceu em Setúbal em 1753.

Soprano com um timbre de voz com uma velatura única, e numa época em que o gosto musical preferia a voz dos castrati, cantou durante mais de vinte anos nos palcos mais prestigiados da Europa, onde as críticas da época a aclamaram como a “voz do século”.

No estrangeiro dedicaram-lhe sonetos, escreveram para a sua voz, e foi pintada pela retratista de Maria Antonieta. Beethoven conheceu-a em 1790 quando, enquanto jovem pianista, tocou num concerto dado em sua honra.

Na corte de Catarina II da Russia permaneceu cinco anos sendo que esta uma vez ao ouvi-la, emocionada, tirou da cabeça o esplendoroso diadema e lho ofereceu dizendo “cantais como uma verdadeira rainha”.

Na Prussia, onde permaneceu dois anos, Frederico Guilherme II, ofereceu-lhe aposentos no palácio real, com carruagem e cozinheiros próprios.

Em 1793, por ocasião do nascimento da infanta, foi requerida a sua presença, e em sua honra foi-lhe concedida autorização especial para cantar em público, o que ao tempo era interdito às mulheres em Portugal.

Após o término da sua carreira e o falecimento do marido, encontra-se no Porto aquando da segunda invasão francesa e, ao tentar atravessar o rio Douro com a população desesperada em fuga das cargas dos soldados franceses, cai ao rio e perde o cofre com as fabulosas joias oferecidas nas maiores cortes europeias. Ao contrário de muitos, conseguiu salvar-se, tendo sido encarcerada mas imediatamente libertada quando o general Soult a reconhece.

Morreu em Lisboa em 1833, no mais completo olvido, cega e em dificuldades financeiras, e até hoje jaz debaixo do prédio entretanto construído por cima do antigo cemitério da Encarnação.”




FERNÃO MENDES PINTO

Fernão Mendes Pinto nasceu em Montemor-o-Velho e em 1537 e, no auge da expansão portuguesa, partiu numa nau rumo à India e ao Oriente, por cujas paragens vagueou cerca de vinte anos.

As muitas vidas que viveu nestas paragens exóticas e desconhecidas contou-as na “Peregrinação”:

 … sem mastro n~e vellas, porque tudo o vento nos fez em pedaços, & com três rombos por junto da quilha, nos fomos logo a pique supitamente ao fundo, sem podermos salvar cousa nenh~ua, & muyto poucos as vidas…

 O nosso capitão mor cometeu então queimarLhe a galé, & lhe lançou dentro cinco panellas de pólvora…

 Aly desembarcamos os nove que ficamos vivos, todos presos em h~ua corrente…A gente do povo vendonos vir assi presos, & conhecendo que eramos christaõs, foram tãtas as bofetadas que nos deram ~q em verdade afirmo ~q nunca cuidei ~q escapássemos daly cõ vida…

 Ao outro dia a tarde os sete que ficamos vivos fomos postos em leilaõ em h~ua praça, onde todo o povo da cidade estava j~uto…

 … se se queria tornar a fè, & fazerse Christão, a que ele respondeu tão duro & tão fora da rezão… vendo quão cego e desatinado estava este malaventurado no conhecimento da santa & Catholica verdade… o mandaraõ atar de pès & de mãos, & vivo foy lançado ao mar com hum grande penedo ao pescoço…

 E cometeome se queria eu lá yr, porque levaria nisso muyto gosto, para so color de Embaixador yr visitar de sua parte o Rey dos Batas…

 Em todo este rio, que não era muyto largo, avia muyta quantidade de lagartos, aos quais com mais próprio nome pudera chamar serpentes, por serem alg~us do tamanho de h~ua boa almadia, cõchados por cima do lombo, com as bocas de mais de dous palmos…

 Feita esta justiça neste cossayro & nos outros, se fez inventayro do que o junco trazia, & se orçou a valia da presa em quasi quar~eta mil taeis em seda, & peças de citim & damasco, & retròs, & almisere, a fora muyta soma de porcelanas finas…

 … porem vendo nelle gente que atê então nunca tinhão visto, ficarão muyto espantados, & perguntado ~q hom~es eramos…

 … porque até então naquela terra nunca se tinha visto tiro de fogo, não se sabiam determinar co que aquillo era, nem entendião o segredo da pólvora & assentarão todos que era feitiçaria.






quinta-feira, 30 de maio de 2024

BOCAGE

"Um mono, vendo-se um dia
Entre brutal multidão,
Dizem que lhe deu na cabeça
Fazer uma pregação.

Creio que seria o tema
Indigno de se tratar;
Mas isto pouco importava,
Porque o ponto era gritar.

Teve mil vivas, mil palmas,
Proferindo à boca cheia
Sentenças de quinze arrobas,
Palavras de légua e meia.

Isto acontece ao poeta,
Orador, e outros que tais;
Néscios, o que entendem menos
É o que celebram mais"



 


CAIO APULEIO DIOCLES

"Teve estátua erigida na Roma antiga e o seu nome era adulado e grafitado nas paredes por todo o Império. Nasceu em Lamego (Lamecum) em 104 d.C. e foi o mais célebre corredor de quadrigas de todos os tempos. Foi dos poucos que sobreviveu no que era o desporto mas amado da Antiguidade.

O Circo Máximo era uma estrutura imensa para a época, com capacidade para 250.000 espetadores e o dia de corridas, segundo testemunhos da época, era acompanhado de uma atmosfera febril, fervor e paixão indescritiveis,. O espetáculo durava o dia todo e faziam-se apostas, encomendavam-se placas de maldição para os adversários, comia-se nas bancas que existiam por debaixo das arquibancadas e convivia-se, pois era o unico espetaculo em que as mulheres eram autorizadas a sentar-se ao lado dos homens.

Os carros eram muito leves e exigiam grande perícia dos corredores, que conduziam usando a deslocação do peso do corpo. As rédeas eram presas à cintura para permitir libertar a mão do chicote sendo frequente, no arranque da corrida e nas curvas de 180º no fim da spina, o arrastamento do condutor pelo carro e a morte, pelo que este transportava sempre uma pequena faca (falx) para tentar cortar as rédeas. A corrida nunca era interrompida.

Já Plinio o Velho escrevia na altura que nos férteis vales de Olisipo (Lisboa) eram criadas umas formosas éguas que, fecundadas pelo vento Zéfiro, originavam os cavalos mais velozes do Império."








quarta-feira, 17 de maio de 2023

RAINHA SANTA ISABEL

"Casou com o rei D. Dinis em 1281 e terá sido rainha muito piedosa, passando grande parte do seu tempo em oração e ajuda aos necessitados. Após a morte do rei em 1325, D. Isabel retirou-se para o convento das Clarissas em Coimbra, onde passou a viver como religiosa, sem votos, após ter deposto a coroa real no santuário de Santiago de Compostela e ter doado todos os seus bens pessoais aos mais necessitados. A reputação de santa aumentou após a sua morte em 1336, tendo sido beatificada pelo papa Leão X em 1516, vindo a ser canonizada pelo papa Urbano VIII em 1625. É reverenciada a 4 de Julho, dia da sua morte pela peste, em Estremoz."

“levava uma vez a Rainha Santa

moedas no regaço para dar aos pobres(...)

Encontrando-a el-Rei lhe perguntou

o que levava,(...) ela disse, levo aqui

rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo

delas.”

(Crónica dos Frades Menores, Frei Marcos de Lisboa, 1562)





terça-feira, 11 de abril de 2023

NZINGA MBANDE

“Em 1621, carregada de gemas preciosas, bizarramente enfeitada de penas de várias cores, majestosa no porte e rodeada por grande grupo de donzelas, de escravas e de oficiais da sua corte desloca-se a Luanda para negociar a paz com o governador João Correia de Sousa. Segundo relatos e gravuras da época, quando entrou com o seu séquito na sala de audiências verificou que, enquanto existia uma cadeira para o governador, a ela apenas estaria destinada uma almofada colocada no chão. Então, a um breve olhar, uma das suas servas prontamente se colocou de gatas, sentando-se Nzinga nas suas costas e assim permanecendo durante toda a audiência. No fim da negociação, quando Nzinga saía da sala, o governador chamou-lhe a atenção de que a serva continuava na sua posição, ao que Nzinga limitou-se a responder que a deixava, pois nunca se sentava duas vezes na mesma cadeira. Só após a sua morte em 1663 é que Portugal conseguiu finalmente ocupar o território que correspondia ao seu reino.”





domingo, 28 de agosto de 2022

IBN QASI

"Nasceu em Silves e foi senhor do Algarve e Alentejo. Mestre sufi respeitado no mundo muçulmano, dedicou a sua vida ao estudo e reflexão religiosa. Opôs-se à tirania da dinastia almoravida do Al-Andalus tendo constituido um governo benévolo com abolição dos impostos e distribuição de dinheiro entre os necessitados.

Fundou em 1130 o ribat da Arrifana, em Aljezur, comunidade de monges guerreiros, cujo sitio arqueológico foi descoberto em 2001, tendo sido desde então alvo de estudos e de visitas de embaixadores de paises muçulmanos, incluindo a do principe Adbulaziz da Arábia Saudita em 2004.

Na sua obra “O Descalçar das Sandálias”, é exposto o seu pensamento místico, tendo também escrito poesia:

Que alegria para quem extrai,

Uma lenta lágrima da alma

Como a serpente tatuada

Que da sua própria pele saindo vai.”





quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

A PADEIRA

"Brites de Almeida nasceu em Faro em 1350, corpulenta, feia, de carácter irrascível e orfã, cedo levou uma vida errante com muitas peripécias, verdadeiras ou aumentadas pelo imaginário popular, como a morte de um pretendente à espadeirada, a fuga para Marrocos e a sua captura como escrava. Após a sua fuga, andou vestida de homem, exerceu os ofícios de almocreve e condutor de bestas de carga. Durante estes novos mesteres foi acusada de desordens e de outro morticínio tendo a Justiça mandado encarcerá-la em Lisboa. Por fim assentou em Aljubarrota onde foi padeira.

Reza a história que após a derrota na batalha de Aljubarrota, sete castelhanos procuraram refúgio escondendo-se no forno de sua casa. Tendo-os descoberto, Brites matou-os à pazada e, segundo a lenda, tê-los-á cozido juntamente com o pão.

As gentes de Aljubarrota guardam zelosamente a sua pá que esteve escondida emparedada na casa da Câmara durante o domínio filipino, e num poço durante as invasões francesas."





domingo, 30 de janeiro de 2022

GRACIA NASI

"Gracia Mendes Nasi nasceu em 1510 no bairro judeu de Alfama.

Foi uma das mulheres mais ricas da Europa Renascentista tendo herdado a imensa fortuna da Casa dos Mendes, com origem no comércio de especiarias e pedras preciosas das Indias, proporcionado pelo Descobrimentos.

Banqueira de reis, papas e sultões (D. João III de Portugal, Henrique II de França, Carlos V de Espanha, papas Paulo III e IV e o sultão Suleiman) financiou as obras de intelectuais e ilustres do seu tempo, entre eles Amato Lusitano ou Bernadim Ribeiro.

Passou a vida a refazê-la, por virtude de ter enfrentado reis e rainhas que a queriam casar ou a sua filha com a nobreza local, para permitir o confisco dos seus bens. Viveu em Lisboa, Londres, Antuérpia, Veneza, Ferrara e finalmente Istambul.

Dedicou a sua vida e fortuna a auxiliar os sefarditas portugueses e espanhois que fugiam das perseguições religiosas do seu tempo, e cuja devoção os levava a tratarem-na simplesmente por “a Senhora”."

















domingo, 28 de junho de 2020

FEITICEIRO

"Lá para as bandas de Cascais terá vivido em tempos, num castelo, um feiticeiro dotado de grandes poderes. Tendo decidido um dia casar com a mais bela rapariga da região, esta o recusou prontamente. Assim, despeitado, o feiticeiro mandou prendê-la na mais alta torre cuja entrada mandou guardar por um criado. A jovem e o seu guardião ali ficaram, partilhando os barulhos da natureza e a sua solidão. O rapaz questionava-se amiude como seria a sua cativa, uma vez que nunca a tinha visto. Um dia decidiu desobedecer ao feiticeiro e subiu à torre e assim que os dois se olharam apaixonaram-se. Resolveram então fugir e, numa noite de luar, fugiram a cavalo para longe dali. Tendo o feiticeiro pressentido o ocorrido, encolerizado, com a sua magia desencadeou uma tempestade nunca antes  vista tendo provocado a abertura dos rochedos que engoliu cavalo e amantes no mar.

Esta abertura rochosa chama-se hoje Boca do Inferno."




sábado, 18 de abril de 2020

NABIA

"Nabia era uma divindade a que se prestava culto na Lusitânia pré-romana. Era a deusa dos rios e deu origem aos nomes dos rios Neiva e Nabão entre outros..."


domingo, 28 de julho de 2019

WAKASA

"Fernão Mendes Pinto na sua obra "Peregrinação" refere que em 1543 uma tempestade empurrou o junco onde ele viajava com outros portugueses até à ilha de Tanegashima no Japão, país esse onde nenhum europeu tinha estado anteriormente. Foi durante esse encontro que os japoneses contactaram com as espingardas que os portugueses transportavam e das quais desconheciam a existência, passando a utilizá-las nas disputas entre si e conseguindo assim unificar o país. O senhor da ilha, Tokitaka, mandou Kimbei, o seu ferreiro de confiança, procurá-los com o objetivo de descobrir o motivo porque não disparavam as espingardas fabricadas a partir daquelas que os portugueses lhe tinham vendido. A descrição contínua, dizendo que Kimbei tinha uma filha muito bonita chamada Wakasa, que levou consigo quando se encontrou com os portugueses. Vendo o interesse que o capitão do barco português, prometeu-lhe que lhe daria a rapariga em troca do segredo que fizesse as espingardas funcionarem. Quando Kimbei regressou do encontro, Wakasa ficara com o capitão e a acompanhá-lo-ia um armeiro que lhe forneceu as explicações necessárias que lhe possibilitaram fabricar ao longo de um ano uma dúzia de réplicas perfeitas de espingardas portuguesas. O relato diz também que Wakasa partiu no navio com o capitão e de ambos nasceu o primeiro luso-japonês. A narração conta que, com o tempo, a rapariga começou a lastimar-se das saudades que tinha da ilha e da sua família e que o capitão, perante os seus lamentos, concordou em deixá-la em Tanegashima numa viagem que o barco fez ao Japão. Porém não conseguindo separar-se do filho, levou-o consigo prometendo que voltaria. Contudo, os meses e os anos passaram e o capitão nunca mais voltou. Na TeppoKi, a narrativa termina desta forma, todavia a lenda dá-lhe continuidade, acrescentando que Wakasa ia todos os dias para o cabo Kadokura, na esperança de vislumbrar o barco que traria o capitão e o seu filho de regresso. Um dia, não se sabe se sonho ou realidade, Wakasa viu uma sombra no horizonte e imaginando que podia ser o barco, correu em direção à falésia para poder ver melhor o mar. Porém, com a precipitação da corrida, desequilibrou-se e caiu, encontrando a morte no fundo do penhasco. Sepultaram-na junto à campa do pai no cemitério dos ferreiros e nesse local continuam a ser deixados lírios brancos (açucenas) designados em Tanegashima por "lírios da espingarda", "teppolili"."





sábado, 18 de maio de 2019

OLHAR

Carta a El Rei D. Manuel sobre o Achamento do Brasil (Pêro Vaz de Caminha)
“ O nosso capitão-mor mandou deitar fora um batel, para ver que povos eram aqueles, e os que lá foram acharam uma gente parda, bem disposta, com cabelos compridos; andavam todos nus sem vergonha alguma, e cada um deles trazia o seu arco com flecha, como quem estava ali para defender aquele rio,”
“Ali não pôde deles haver fala nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Dou-lhes somente um barreto vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de aves compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus.”




A QUEDA DE UM ANJO (Camilo Castelo Branco)

"Abriram-se as Câmaras. A oposição espantou-se de ver o deputado por Miranda conversando muito mão por mão com os ministros. O abade de Estevães ousou perguntar ao seu colega, amigo e correligionário, de que rumo estava. Calisto respondeu que estava no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz. O desembargor do eclesiástico redarguiu com admoestações benévolas. O morgado sorriu-lhe na cara veneranda, e disse-lhe:
- Meu amigo, abra os olhos, que não há martirológio para as toupeiras. As ideias não se formam na cabeça do homem: voejam na atmosfera, respiram-se no ar, bebem-se na água, coam-se no sangue, entram nas moléculas e refundem, reformam e renovam a compleição do homem.
- Segue que está liberal? – perguntou o pávido abade.
- Estou português do século XIX.
- Apostatou! Disse com pesar mui estranhado o padre. – Apostatou!"





sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

SEREIA DA PRAIA

"Numa noite de lua cheia um pescador avistou a boiar calmamente sobre as águas, em direcção à praia, uma mulher de longos cabelos que ondulavam como o mar na aragem. Nua da cintura para cima, o seu corpo era de uma beleza única e esplendorosa, com um rosto de extrema suavidade. O pescador, no areal, ficou deslumbrado com tão rara visão. Espantado e curioso, aproximou-se para averiguar, e quando já estava muito perto da mulher, que brincava nas águas envoltas em luar, percebeu com algum medo que o pescoço da mulher se encontrava desfigurado pelo que lhes pareciam guelras. Da cintura para baixo, apresentava a anatomia de um peixe. Uma sereia!, exclamou o homem espantado com a visão. Perdido entre o medo e a aflição de não saber o que fazer, e consciente das histórias que se contavam das sereias que encantavam os homens e que os levavam para nunca mais serem vistos, o pescador julgou ser obra do diabo e começou a esconjurar a aparição. Mal o fez, a mulher presa no corpo de sereia voltou a ser simplesmente mulher, saindo das águas, envolta em luar.
A lenda não informa se os dois foram felizes para sempre, mas está na origem do nome atribuído a esta praia no mapa feito pelo cosmógrafo real Luís Teixeira em 1584, para Filipe II de Espanha, aquando da sua viagem aos Açores nesse ano, que lhe atribuiu o nome de Playa Hermosa - Praia Formosa."





AKHENATON





segunda-feira, 18 de setembro de 2017

OLHARAPO

"...o olharapo é referenciado especialmente, em contos e lendas transmontanos, que o apresentam como um gigante antropófago, violento e feroz, que tem a particularidade de possuir um único olho no centro da testa."